domingo, 17 de abril de 2011

Reflexões com a juventude


Mui queridos amigos,

No último sábado (19/03), tivemos um excelente encontro com nosso querido Conselheiro Pejman Samoori. De forma especial o jovem Conselheiro conseguiu tocar o coração de cada um presente, animando e encorajando todos a agirem de forma mais comprometida no novo Plano de 5 anos que se inicia no Ridvan deste ano.
Fazendo a leitura completa deste relatório você vai sentir como se estivesse na reunião do sábado, é impressionante!
Vai encontrar temas como:
  • O que Bahá’u’lláh, Abdu’l-Bahá, O Guardião, e a amada Casa Universal de Justiça falam sobre os jovens.
  • O que significa sacrifício?
  • “Quero que a minha religião seja a Fé Bahá’í ou quero que a minha vida seja a Fé Bahá’í?”
  • O sofrimento dos jovens mártires da história da Fé : Mulla Hussayn (31 anos), Táhirih (26 anos), Quddus (22 anos), Badí (17 anos), Mona Mahmoudnizhad (16 anos, martirizada em 18/06/1983).
  • É esclarecido também três elementos chaves para que possamos estabelecer movimento de juventude que desejamos: disciplina, discurso e comunicação.
Em resposta a está reunião os jovens do Falcão Real tomaram a iniciativa de organizar um encontro mensal de jovens, a ser realizado todo 1º sábado do mês, com o objetivo de cada um levar no mínimo um contato. (Quem desejar maiores informações sobre o mesmo, é só pedir ;)

Minha sincera sugestão para que leiam até o final, e em seguida divulguem para todos os jovens de suas comunidades.

Com muito carinho,

Anis Sami

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Brasília, 20 de março de 2011.


Queridos jovens do Falcão Real,

Quero expressar a minha profunda gratidão pelo nosso encontro de ontem à noite na casa da família Fatheazam. O período de jejum em si é tremendamente especial, e isso agregado ao espírito da juventude, à simbologia do ano novo e à cortesia da família anfitriã, tornou o nosso encontro ainda mais especial.

Quero aproveitar o espírito de ontem, que ainda está fresco na minha mente, e registrar nesse email alguns dos pensamentos que compartilhamos, tanto para consolidar mais essas idéias entre os que estavam presentes, como também para atingir outros amigos que não puderam estar.

Enquanto eu estava no Centro Mundial em janeiro e tive o privilégio de participar daquela histórica Conferência dos Conselheiros, eu tive uma grande certeza: de que necessitava conversar com os jovens. Mas conversar sobre o que? Obviamente que tinha a ver com a Mensagem da Casa Universal de Justiça de 28 de dezembro de 2010, mas também tinha algumas outras emoções envolvidas. Emoções não apenas porque vocês representam a juventude bahá’í, mas porque são uma juventude privilegiada por viver nessa época extraordinária da Fé. Vocês são na maioria filhos de pessoas muito ilustres na Fé, pessoas que realmente serviram incondicionalmente pelo progresso da Causa.

Apesar de não ser mais jovem de idade (e realmente sinto falta), vou escrever na primeira pessoa do plural (nós) para poder me expressar e não me excluir das responsabilidades. Não falo como um adulto que reduz o valor dos jovens como incapazes ou imaturos, mas como um adulto que ama a juventude e se identifica com ela.

Acho que nós precisamos despertar diante do grande privilégio que a nós foi concedida. ‘Abdu’l-Bahá diz que até os santos se sentem confundidos com a posição que recebemos como bahá’ís. Ele diz que os gigantes espirituais do passado queriam viver nesse Dia. E essa posição é tão elevada, que Bahá’u’lláh diz que o próprio propósito da Criação está condicionado a isso. Mas por que nós? É um mistério. E a bênção e responsabilidade ainda é maior quando percebemos que muitos jovens bahá’ís do nosso agrupamento não somente conheceram a Fé, mas também foram criados num lar bahá’í.

Nós levamos no sobrenome a história de pioneiros, mártires, grandes instrutores, membros destacados das instituições bahá’ís... Mas ainda assim, esse sobrenome não nos garante o nosso quinhão. Foi uma conquista dos nossos antepassados, mas não é nosso. Nós somente conquistaremos a nossa condição se nos esforçarmos.

De certa forma há um exagero de idéias que envolvem a juventude, e é importante percebermos que essas idéias foram criadas pelos meios de comunicação para vender mais produtos. Mas também é inegável que existem certas condições que tornam a juventude particularmente desafiadora. Estamos passando de uma infância ou adolescência dependente, para uma juventude ampla, quase infinita. Vivíamos na casa dos nossos pais, e agora pensamos em independência e um lugar próprio. Bastava os namoricos e saídas eventuais, e começamos a pensar em família. Bastava ir à escola e fazer as provas, agora tenho que escolher a profissão do meu futuro.

Mas também é uma época de decisões fundamentais, tais como: “Qual o sentido da minha vida?”, “Quero que a minha religião seja a Fé Bahá’í ou quero que a minha vida seja a Fé Bahá’í?”. Dependendo da resposta, posso escolher uma profissão ou outra. Dependendo da resposta, posso casar com uma pessoa ou outra. Dependendo da resposta, posso aceitar servir nas instituições ou não. Dependendo da resposta posso assumir responsabilidade maiores na Fé ou postergar o meu envolvimento.

Se temos que eliminar as falsas dicotomias (como menciona na Mensagem de 28/12/2010), então temos que repensar nessa relação entre serviço e estudo, entre padrão de vida bahá’í e nosso convívio com nosso círculo de amigos, entre prosperidade material e serviço à Fé. Na Mensagem diz que o padrão de vida estabelecido por Bahá’u’lláh não admite transigência. Não é um padrão de vida para o futuro. Quando o Guardião menciona “embriônico”, se refere à Ordem Administrativa que está evoluindo, e realmente necessitamos evoluir muito mais. Mas isso não se aplica ao nosso comportamento individual. Se fosse assim, Mulla Hussayn e Quddus tinham mais direito de não seguir o padrão de vida bahá’í porque viveram numa época ainda mais distante da idade áurea.

Por outro lado, ao mesmo tempo que a Revelação de Bahá’u’lláh não admite transigência, a Mensagem diz que não devemos nos achar superiores, e que somos imperfeitos. Mas o que vale é um sincero esforço diário de querer melhorar e seguir esse padrão de vida. Mas a pergunta é: quanta energia colocamos nisso? Quanto de “esforço sincero” dedicamos?

Resgatando algumas idéias chaves da histórica carta do Guardião de 1938, posteriormente publicada com o nome O Advento da Justiça Divina, a Mensagem de 28 de dezembro de 2010 fala dos pré-requisitos para o sucesso de todos os empreendimentos bahá’ís, como sendo: retidão de conduta, uma vida casta e santa, e estar livre de preconceitos. Especificamente com relação à vida casta e santa, lembra a preocupação do Guardião para que os jovens não cedam às paixões do mundo. E quais são essas paixões? A admiração pelo poder, a adoração por status, o amor ao luxo, o apego a ocupações frívolas, a glorificação da violência e a obsessão com a auto-gratificação. Essas paixões são forças que nos afetam. Ou não nos sentimos afetados pela pressão de sermos bonitos, ricos, populares e desejados? Temos que reconhecer que essas forças nos afetam e não escondê-las. O fato de não sermos perfeitos não implica que devemos ter “dupla personalidade”: vida bahá’í e vida não-bahá’í. Não somos uma único ser com nome e sobrenome? Então como podemos admitir essas dicotomias? Seria na realidade uma falta de coerência entre quem somos, o que dizemos que somos, e o que fazemos. Para sermos coerentes, temos que identificar tais forças e lutar sistematicamente contra elas.

Para estarmos dispostos a nos envolver nessa luta, devemos entender bem o tema do sacrifício. No livro 2 há um exercício que fala de sacrifício e dá um exemplo de uma pessoa que tira as pedras do bolso para enchê-los de jóias. Alguns podem pensar: “Mas ele não sacrificou nada, ele está tirando algo de menor valor e colocando algo de maior valor”. Mas é exatamente isso que significa sacrifício. Sacrificar não é necessariamente sofrer, mas é deixar algo inferior por algo superior. Se a Causa de Bahá’u’lláh é o que há de mais elevado em nossas vidas, então que sentido tem quando afirmamos: “tenho que sacrificar horas do meu estudo para poder ir à campanha de ensino” ou “não posso sacrificar o meu domingo com os amigos para assumir alguma atividade central”. Se para mim essa troca significa dor e sofrimento, então não é sacrifício, porque eu considero as outras coisas como mais importantes e superiores. No livro 5 há um texto escrito no nome do Guardião que  diz: “Os jovens devem se tornar desprendidos de todas as coisas mundanas, e plenos do poder dinâmico do Espírito Sagrado levantarem-se para difundir a Mensagem e tocar os corações”(seção 7, p.13).

Mas isso não significa que os jovens não devam se preocupar com a vida material e a formação intelectual. Muito pelo contrário, o Guardião e a Casa Universal de Justiça encorajam que os jovens alcancem os mais altos níveis de excelência, inclusive que se destaquem como profissionais. Mas isso não pode ser pensado de forma exclusiva (isto ou aquilo). Por que não pensar em ambas as coisas juntas? Não seria possível estudar e servir intensamente ao mesmo tempo? Não seria possível, com toda a energia própria da juventude, servir, estudar e trabalhar ao mesmo tempo?

Um exemplo claro disso era a Mão da Causa de Deus Dr. Muhajir. O serviço à Fé era tão intenso, que todas as brechas de tempo que ele tinha dedicava à Fé. Era membro do Comitê Nacional de Juventude do Irã, estudava medicina e estava fazendo plantões em hospitais a noite. Como ele não podia deixar nada para depois, porque não sobrava tempo, ele escrevia as cartas do Comitê Nacional de Juventude na própria reunião, colocava no envelope e mandava imediatamente. Essa era a maneira do Dr. Muhajir não reduzir o ritmo de serviço a Fé, mesmo diante de tantas outras responsabilidades.

Além disso, numa reflexão mais pedagógica, o conhecimento que adquirimos na academia é validado na prática. Nós nos construímos como seres humanos nas interações e na vida comunitária. Um círculo de estudo não é somente um grupo que estuda juntos uma seqüência de livros do Instituto Ruhí. Através do círculo aprendemos a gerar participação, a consultar e a respeitar opiniões distintas. Além disso, percebemos as implicações dos textos sagrados nas nossas vidas. E essas aprendizagens não se limitam ao círculo de estudo, mas nos influenciam na forma de estudar, de trabalhar e de interagir com o mundo. Paulo Freire dizia que ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho, mas nos educamos juntos na transformação do mundo. No livro 5 (seção 8) diz que “quando... vemos o serviço como uma arena na qual o conhecimento é aplicado e o intelecto é desenvolvido”, então evitamos essas separações e percebemos o serviço como central na nossa formação.

A Fé, desde o início, foi marcada pelo protagonismo da juventude. Por isso que o Guardião diz que o “futuro da Causa, que é tão querida a todos nós, depende da energia e devoção da geração nascente” (Livro 5, seção 7, p.13). Lembrando da época do Báb, tivemos jovens como Mulla Hussayn (31 anos), Táhirih (26 anos) e Quddus (22 anos). O sofrimento de Quddus é comparado à crucificação do próprio Cristo. Quddus também pede a Deus que perdoe os carrascos. E é esse mesmo Quddus que quando está sendo martirizado brutalmente, diz que desejava que mãe estivesse presente para ver o casamento dele com o Bem-Amado.

Já na época de Bahá’u’lláh outro jovem marcou a história. Seu nome: Badí (17 anos). Foi ele quem levou a mensagem de Bahá’u’lláh ao Xá. Foi torturado por três dias até morrer. Bahá’u’lláh disse que Badí foi recriado e lançado como uma bola de fogo. E garantiu que se fosse a Sua vontade, Badí teria incendiado o mundo inteiro com o espírito da nova Fé.

Na geração de 80 vimos novamente heroísmos como o da Mona Mahmoudnizhad (16 anos, martirizada em 18/06/1983). O crime dela era realizar aulas bahá’ís para crianças. Na própria década, a Casa Universal de Justiça escreve uma carta para a juventude em 1984, com a célebre frase: “A juventude pode mover o mundo”.

E novamente agora, outros jovens estão presos no Irã, em pleno século XXI, por terem aplicado “Brisas de Confirmação” com pré-jovens. Diante da coragem dos nossos irmãos de geração no Irã não seria razoável pensar que os demais jovens bahá’ís do mundo responderão “irrestritos como o vento” pela liberdade que usufruem? Eu posso estar tranqüilo somente com os meus estudos e minha profissão enquanto sei que jovens bahá’ís da minha idade no Irã não podem estudar nas universidades, devem sobreviver com o pouco que conseguem ganhar e ainda assim servem sistematicamente à Fé?

A Mona expressou muito bem esse elo entre os jovens bahá’ís do Irã e os jovens do mundo. Ela dizia que se soubesse que o seu martírio foi motivo para que muito jovens se levantassem para servir a Causa, ela ofereceria mais cem mil vidas. A melhor resposta que a juventude bahá’í pode dar às atrocidades que continuam acontecendo no Irã é trabalhar mais intensamente pela Causa, para que a Fé de Bahá’u’lláh seja percebida no mundo. Por isso que devemos crescer em tamanho. É isso que a Casa Universal de Justiça escreve no telegrama enviado à juventude bahá’í do mundo no dia 24 de junho de 1983 em memória das 10 mulheres que foram martirizadas em Shiráz (incluindo a Mona): “Confiamos juventude bahá’í esta geração não permitirá que este novo sangue derramado sobre mesmíssimo solo onde ocorreu primeira onda perseguição Fé permaneça sem vindicação, nem que este sacrifício sublime seja em vão. Nesta hora de aflição e pesar, e agora que nos aproximamos do aniversário martírio abençoado Báb, conclamamos juventude bahá’í rededicar-se às necessidades urgentes Causa de Bahá’u’lláh.”

Vivemos na Idade Formativa da Fé. Sabemos claramente para onde o mundo está caminhando. Percebemos que a crise que o mundo está passando faz parte do próprio processo de desintegração dessa Ordem. Sabemos que uma Nova Ordem será estabelecida. Estamos conscientes de que quanto mais trabalharmos, mais rápido chegaremos como civilização àquela idade áurea prometida em todas as grandes religiões, e menor será o sofrimento das massas da humanidade. E nesta época que faz parte da Idade Formativa da Fé, somos chamados a ombrear e consolidar os processos de expansão e consolidação estabelecidas no mundo bahá’í. No Plano de Quatro Anos, a Casa Universal de Justiça transmite a sua esperança com relação à juventude, quando diz: “...Seja qual for o campo de serviço em que vocês trabalhem, não percam de vista a meta central do Plano de Quatro Anos. Ensinem com zelo, participem dos cursos oferecidos pelos seus institutos, aprendam a se tornar professores desses mesmos cursos para as multidões que entram na Fé, e se levantem para explorar as forças espirituais que estimularão sua geração”(Livro 5, Seção 8, p.15).

Há muito que se pode fazer, mas deve ser alinhado ao plano. Senão vamos parecer a água parada que foi retirada do rio. Perdemos o destino e com o tempo, perdemos as propriedades vivas do rio. Temos que deixar nossos gostos e desgostos no serviço à Causa, e fazer o que é necessário.

Assim, a pergunta seria: “Como vamos ajudar a que novos agrupamentos iniciem seus programas de crescimento?”. Isso é responder diretamente ao Plano. E quais poderiam ser as ações? Talvez mudar  o meu curso para uma outra universidade num agrupamento que necessita de pioneiro de frente interna. Ou, talvez, dar um tempo de serviço à Fé. Ou dedicando um tempo significativo da minha vida para o fortalecimento das instituições e atividades centrais no agrupamento.

Realmente é incoerente ver um agrupamento como Falcão Real, que tem o potencial de crescer na intensidade prevista de centenas acompanhando milhares de pessoas, não crescer por falta de recursos humanos que estejam dispostos a dedicar seu tempo à Fé ou assumir responsabilidades estratégicas do Instituto e do Comitê de Ensino de Área. Não ter tempo para a Causa, é não ter tempo para Deus. E quem não tem tempo para Deus, está perdendo o seu tempo.

Aquele tão sonhado movimento bahá’í de juventude somente surgirá à medida que mais jovens estejam se fortalecendo com o processo do instituto, servindo nas atividades centrais e se envolvendo nas novas estruturas que essa Ordem emergente vai requerendo. O movimento de juventude que desejamos estabelecer necessita considerar três elementos chaves: disciplina, discurso e comunicação. A disciplina provem do amor e não do fanatismo, materialismo e corrupção. A disciplina do amor não é algo abstrato e vazio, mas uma força poderosa que conduz à perseverança, serviço, perdão e justiça. Disciplina está relacionado ao “sincero esforço diário” de entendermos melhor os ensinamentos do oceano da Revelação de Bahá’u’lláh e aplicá-los na nossa vida. Essa disciplina requer um fortalecimento constante do nosso amor por Bahá’u’lláh.



Discurso não é algo teórico e distante da realidade. Mas o discurso se firma na ação, e eleva as nossas conversas, tornando-as significativas e distintivas. E a rede se estabelece quando temos identidades fortes nos relacionando. E tais identidades se consolidam quando nos acompanhamos e trabalhamos juntos pela melhora do mundo. Tais laços são muito mais fortes do que os nossos grupos de churrasco, shopping e futebol.



Assim, hoje temos todas as condições para o estabelecimento de um movimento bahá’í de juventude sólido. No passado havia a vontade, mas não se sabia como. Hoje temos os meios, basta que percebamos o poder desse sistema estabelecido pela Casa Universal de Justiça.



Apesar desse email ter sido escrito para os jovens bahá’ís do DF, deixo ao critério de cada um de vocês compartilharem o conteúdo com outros jovens do Brasil e gerarmos cada vez mais reflexões de como a juventude brasileira vai responder aos desafios do Plano de 5 Anos.



Um grande abraço e feliz Naw-Ruz para todos!



Pejman

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